Assim que Fátima saiu para ir tratar de um assunto importante noutro departamento da empresa, Marcelo resolveu aproveitar a oportunidade de se encontrar sozinho no escritório para navegar durante alguns minutos na Internet. Entrou num site gay. Após uma rápida vista de olhos por imagens e estórias homoeróticas, deu por si excitado. Mas tinha de se controlar, pois estava no trabalho e a colega poderia chegar a qualquer momento. Só que o jovem arquitecto não suspeitava de que o observavam.
No escritório havia duas portas. A principal, a qual ele e Fátima sempre usavam, ficava defronte da sua secretária. Enquanto se deliciava com o novo mundo que ia descobrindo através do computador, Marcelo mantinha-se atento a essa porta: se ela se abrisse, sairia imediatamente do site, sem permitir que Fátima ou quem mais chegasse de rompante desconfiasse das suas secretas andanças eróticas. Quanto à outra porta na parede oposta, raramente usada, Marcelo já se certificara de que estava fechada. O que ele não sabia era que o senhor João Freitas, segurança do prédio, tinha consigo cópias de todas as chaves. Tão-pouco esperava que, justamente nesse seu momento de devaneio, o segurança entrasse fortuitamente por essa mesma porta e o surpreendesse com a boca na botija.
João Freitas era homem de uns 35 anos, bastante atraente, casado e pai de dois adolescentes. Marcelo tinha 24 anos, namoriscava uma rapariga de idade aproximada, mas não levava a relação a sério. Dir-se-ia que andava com ela mais por não ter nada melhor para fazer do que por outra coisa. E já há algum tempo se sentia confuso com a sua própria sexualidade. Agora dava-se conta, um tanto incrédulo, que aquelas fotos de homens nus e pares masculinos em poses que iam do meramente sensual ao pornográfico o excitavam como a namorada jamais o excitara. Esse misto de assombro e fascínio entranhou-se de tal modo na sua mente a ponto de não o deixar perceber que alguém acabara de entrar pela porta que se encontrava atrás de si.
Um brusco movimento do segurança fê-lo cair na realidade. Ao ouvir o tilintar de um molho de chaves, Marcelo apavorou-se. Antes mesmo de olhar para trás, clicou imediatamente no rato para sair da Internet. Virou-se então e viu o senhor João Freitas. Ficou aterrado, porém tentou disfarçar o nervosismo. Sem lhe dar margem para manobra, João Freitas questionou-o logo, frontalmente, se costumava aceder àquele site com frequência.
– Que site? – perguntou Marcelo, fazendo-se de desentendido.
– O Sr. Arquitecto pensa que não o vi? – volveu o segurança, sorrindo malicioso. – Percebi perfeitamente que você estava a segurar-se para conter o tesão.
O nervosismo quase fez Marcelo tombar da cadeira. João Freitas aproximou-se dele e prosseguiu:
– Estava ali no meu canto... só estava à espera que o doutor batesse uma bronha.
Marcelo encarou-o sério, olhos nos olhos. Ripostou-lhe, com cara de poucos amigos:
– Qual é a sua, Sr. Freitas? Anda a espiar-me?
– Não me venha com essa treta, Dr. Marcelo. Eu sei muito bem do que você gosta – frisou o segurança, num tom firme.
Essa breve troca de galhardetes quase parecia uma discussão. Contudo, ao sentir-se desmascarado e irremediavelmente sem saída, Marcelo não achou outra solução senão ceder: admitiu que procurava imagens de «gajas boas» na Internet e caíra acidentalmente naquela página. Todavia, ao vê-la, a curiosidade sobre o seu conteúdo predominou. Referiu que sempre teve curiosidade em saber como seriam as relações sexuais entre homens. João Freitas ouvia-o muito atento e deixou escapar, de propósito, que quando era mais jovem tivera uma experiência dessa natureza com um amigo. Frisou que fora apenas uma vez! Essa confissão fez Marcelo arrepiar-se todo. Estava perplexo. Nunca imaginara que aquele homenzarrão forte, casado e com dois filhos, sem o menor indício de ser gay ou bissexual, gostasse do produto. Conversaram um pouco mais, agora num tom de franqueza, até Marcelo perceber que o segurança mantinha as mãos nos bolsos. Pareceu-lhe que se masturbava ao conversar. Um longo silêncio pairou no ar. Era um silêncio estranho, um silêncio de cumplicidade. Quebrou-o o repentino regresso de Fátima. Ao vê-la entrar, João Freitas sussurrou ao rapaz, num tom de aviso, que regressaria à hora do almoço para continuarem a conversa. E saiu.
Marcelo recomeçou a trabalhar, mas passou o resto da manhã sem conseguir fazer praticamente nada. Sentia-se aturdido com os recentes acontecimentos na ausência de Fátima e não se concentrava no trabalho. Só imaginava coisas relacionadas com o incidente e questionava-se constantemente sobre o que o segurança pretendia dele. Um certo temor dominava-o.
Mal chegou o meio-dia, Marcelo desceu à cantina da empresa. Passou pela recepção, onde trocou um olhar profundo com o segurança, sem pronunciar uma só palavra. Terminado o almoço, foi escovar os dentes nos lavabos. Nisso, João Freitas entrou e trancou a porta por dentro. Marcelo estremeceu e censurou-o:
– Sr. Freitas, esta é casa de banho da empresa! Não se pode trancar a porta!
O segurança lançou-lhe um olhar mais malandro do que o da primeira vez e soltou uma desculpa esfarrapada:
– Neste horário fecho-a sempre, para poderem fazer a limpeza.
Ainda assim, Marcelo não se sentia à vontade. João Freitas aproximou-se dele e abraçou-o com uma força brutal. Marcelo nunca sentira um abraço masculino tão intenso, nem muito nem pouco parecido. João Freitas tentou beijá-lo. Marcelo, afastando o rosto, recusou-lhe os lábios, pois não era dado a beijos. O segurança então, com uma facilidade de impressionar, virou-o de costas e começou a roçar-se nele. Desabotoou-lhe logo a braguilha e segurou-lhe carinhosamente o pénis, enquanto punha para fora o seu membro erecto. Passou a introduzi-lo vagarosamente no rabo do rapaz.
Marcelo estava pasmo e sentia-se impotente, paralisado mesmo, para deter o segurança. Permitia-lhe os avanços. Essa situação perigosa e inusitada tanto o aterrorizava como o excitava. E o desejo, um súbito desejo de prosseguir até aos finalmentes, apoderava-se-lhe de modo crescente. Não pôs a menor objecção ao assalto daquele pedação de carne às suas entranhas, embora no início, ao ser perfurado, se contraísse de dor. Enquanto o segurança já desbravava caminhos nunca dantes explorados, enrabando-o com mestria e possuindo-o com o vigor de um leão, a dor aguda que Marcelo inicialmente sentira no ânus logo se fundia num prazer luxuriante, delicioso, inigualável. Porém, algo lhe dizia que aquilo não poderia estar a acontecer consigo e tinha a ligeira impressão de estarem a ser vigiados. O pior é que estavam mesmo, só que Marcelo não o sabia.
Em todas as casas de banho, o lado dos lavatórios, onde ambos permaneceram até atingirem o auge supremo daquela loucura, era monitorizado por câmaras de filmar, tal como as demais dependências do prédio. Mas Marcelo só viria a tomar conhecimento desse facto no final da tarde seguinte, quando, prestes a sair do trabalho, o senhor Manuel Santos, um jovem de aproximadamente trinta anos responsável pelas questões técnicas da vigilância, lhe telefonou pedindo que se deslocasse até ao seu gabinete. Nesse mesmo instante, uma certa inquietude avassalou Marcelo da cabeça aos pés. Intrigado com esse estranho chamamento, interrogou-se sobre o que Manuel Santos pretendia dele, ainda por cima no seu próprio gabinete, mas estava longe de imaginar o que ele realmente lhe queria comunicar.
Para sua grande surpresa, ao entrar no gabinete do técnico, Marcelo deparou com Manuel Santos e João Freitas numa conversa calorosa e íntima, deveras perturbadora. Tremeu! Percebeu logo que eles eram amigos e perguntou o que queriam. Então, o segurança pediu ao técnico que lhe mostrasse o vídeo. Marcelo, ao visioná-lo num écran, quase teve uma síncope cardíaca.
– Calma, Dr. Marcelo! – disse-lhe João Freitas, tentando tranquilizá-lo. – Ninguém lhe vai fazer mal.
– Que significa isto, Sr. Freitas? – balbuciou Marcelo, perplexo. – Que andam a tramar contra mim?
– Absolutamente nada, caro amigo – respondeu Manuel Santos, acrescentando, com uma malícia libidinosa a faiscar-lhe nos olhos: – Só queremos que seja bonzinho e colabore connosco.
Nesse mesmíssimo segundo, Marcelo compreendeu que eles eram amantes. Refeito do susto, percebeu que a armação fora toda combinada entre os dois. Lançaram-lhe o isco e ele mordera-o sem nada desconfiar. Teve um impulso de os esmurrar e chispar dali, todavia controlou-se.
– Que pretendem de mim? – insistiu, meio impaciente, já se sentindo acorrentado e à mercê deles.
– Apenas que venha connosco beber um copo em casa do Manel – sussurrou João Freitas. E piscando-lhe o olho: – Garanto-lhe que não se vai arrepender. Bem pelo contrário, Dr. Marcelo: ainda nos vai agradecer!
Marcelo não sabia o que dizer. Por um breve momento, reviveu a emoção da véspera: a sua iniciação algo forçada, porém desejada e consentida, nos prazeres masculinos. Constatou que a sua deliciosa aventura ainda mal começara e fulminou ambos os machos com um súbito brilho nos olhos. Entusiasmado com a perspectiva, aceitou o convite e zarparam logo para a casa do técnico. Afinal, se foder com um é bom... foder com dois machos potentes poderia ser muito melhor.
De facto, como viria a comprovar, Marcelo nunca imaginara o delírio que é desfrutar gozos inconfessáveis do sexo com dois homens fabulosos à sua inteira disposição. Ou seja, brincar ao mesmo tempo com duas pilas ávidas de prazer.
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