sábado, 13 de agosto de 2011

O TRILHO DOS PIRILAMPOS

Autor – Sakura Shounen
Email – sakurashounen@hotmail.com




Olá a todos. Antes de começar, só quero deixar claro que esta é uma ficção baseada na obra original “Lawful Drug”® e que todas as personagens, referências e imagens são da autoria do brilhante colectivo de desenhadoras CLAMP®. Divirtam-se!

– Vai repor isso na estante! – Disse Rikuo a Kazahaya com uma expressão autoritária.
– Um “por favor” uma vez por outra não te matava! – Respondeu Kazahaya rispidamente. Não suportava a maneira como aquele troglodita do Rikuo lhe dava ordens, como se fosse dono da “Green Store”. Rikuo limitou-se a lançar-lhe um sorriso de troça e voltou a remexer nas caixas de shampoos, bálsamos de lábios e rebuçados herbais. Era um homem grande, moreno, e devido ao rosto muito marcado e masculino não aparentava os seus 18 anos, a mesma idade de Kazahaya, que era o seu oposto. Este era magro e um pouco baixo em comparação a outros rapazes da sua idade, e o seu rosto era talvez demasiado bonito e delicado para rapaz. O seu cabelo era castanho claro, liso e sedoso, os grandes olhos pareciam ainda de um miúdo. É claro que Rikuo já havia feito comentários jocosos à sua aparência e não perdia a oportunidade de o fazer sentir-se uma criança pequena. Tinham passado uns sete meses desde que Rikuo o tinha apanhado inconsciente e meio morto de fome numa rua na véspera de Natal e lhe tinha assim salvo a vida. Kazahaya estava-lhe grato por isso e só por isso lhe permitia ser um idiota, pelo menos enquanto a sua paciência o deixasse. Vivia com Rikuo num pequeno apartamento, por cima da “Green Store”, a loja de produtos naturais onde ambos trabalhavam durante o dia. A loja pertencia a Kakei, um homem muito simpático embora algo peculiar, de uns trinta anos, que lhes oferecera trabalho e o apartamento para habitarem.
– Ei, rapazes, podem fechar a loja por hoje! O Kakei quer discutir negócios convosco. – Era Saiga, um homem que estava quase sempre na loja, a fumar ou a dormir. Kazahaya imaginava que fosse sócio de Kakei na loja, mas ele era o primeiro a afirmar que Kakei era o patrão. Trazia sempre os seus óculos escuros, fizesse chuva ou sol, parecia sempre extremamente bem disposto como se a vida lhe corresse de feição.
– Eh, Saiga... Porque não tiras os óculos escuros ao menos uma vez?
– Ahahahah! Pensei que achasses o meu visual inspirador, Kazahaya.
– Nem por isso. Dá-te um certo ar de “yakuza” (máfia japonesa). – Respondeu Kazahaya com um suspiro de cansaço.
– Ahahahah! Estás a ficar muito atrevido, pequeno. Não tens medo de poderes estar a desmascarar um “yakuza” verdadeiro?! – Saiga ria-se enquanto colocava um braço à volta do pescoço de Kazahaya e o apertava simulando uma qualquer técnica de assassínio que os “yakuzas” usavam, pelo menos nos filmes.
– Despachem-se que o Kakei não gosta que o façam esperar e depois terei eu que lidar com o seu mau humor.
– Vou já! – Disseram Rikuo e Kazahaya ao mesmo tempo.
Ao fundo da “Green Store” estava o pequeno gabinete onde Kakei trabalhava e Saiga parecia dormir o dia todo. Quando entraram, Kakei estava sentado no sofá ao lado de uma pequena mesa de chá. E sorria-lhes, fazendo-lhes sinal para que entrassem, enquanto acariciava o cabelo de Saiga, que parecia ter adormecido quase instantaneamente com a cabeça pousada no seu colo. A natureza da relação entre Kakei e Saiga não era propriamente segredo, mas Kazahaya ainda se sentia embaraçado com as suas manifestações quase constantes de afecto.
– Sentem-se por favor, bebam um chá. – Ofereceu Kakei, sorrindo-lhes calorosamente por detrás dos óculos de aros finos que usava. Era sempre muito simpático e tinha recebido Kazahaya muito bem, fizera-o sentir-se quase em casa. Ao contrário de Saiga, era magro e esbelto, com a pele muito clara, cabelo aloirado e liso e intensos olhos azulados. Era encantador e muito misterioso. Nem sempre era fácil decifra-lhe os verdadeiros pensamentos, e assim que sorria destruía quaisquer defesas que alguém lhe pudesse opor.
– Tenho um outro “serviço” para vocês. – Disse ele, na sua voz suave e envolvente.
Kazahaya adiou o gole que se preparava para dar no chá verde e olhou instintivamente para Rikuo. Ele também o olhava de lado, recostado no sofá, de braços cruzados, com os seus olhos escuros, rasgados. Já ambos se tinham acostumado a estes “serviços”. Durante o dia trabalhavam na “Green Drugstore”, mas Kakei confiava-lhes outros trabalhos. Coisas como localizar e recuperar objectos preciosos, procurar mensagens secretas em filmes ou coisas ainda mais bizarras, como recuperar memórias perdidas de alguém, capturar gatos fugitivos ou apanhar “pirilampos invisíveis”. Quase todas acabavam por envolver grandes riscos, ainda que parecessem inocentes ou disparatadas. A principal razão pela qual Kakei lhes confiava estas missões, encomendadas por clientes secretos, era aquilo que tornava Kazahaya e Rikuo especiais. Ambos eram dotados de poderes psíquicos que usavam para escapar de situações complicadas. Kazahaya era “sensitivo”. Podia ver imagens, recordações e emoções ligadas a locais, objectos ou seres vivos que pudesse tocar. Rikuo possuía uma forma de telecinésia, podendo mover ou destruir pequenos objectos com a mente ou controlar remotamente mecanismos, como relógios analógicos ou fechaduras. (A verdadeira natureza destes dons, e da suposta coincidência que leva dois estranhos com estas capacidades a juntarem-se na “Green Drugstore”, ainda não foi desvendada pelas autoras.)
– Esta noite... – Continuou Kakei. – ... há um festival no Templo Tsuki (“Tsuki” significa lua em japonês). Uma vez que vai haver muita gente, precisam de ser rápidos e discretos. Há um pequeno bosque atrás do Templo, e nele existe um caminho chamado Trilho dos Pirilampos. Preciso que os dois vão lá investigar uma coisa.
– Trilhos dos Pirilampos?... Nunca tinha ouvido falar... – Pensou Kazahaya em voz alta.
– Eheheh! Não é algo de que se fale muito, mas é um “daqueles locais” nesta cidade. – Disse Kakei, sorrindo.
– Daqueles locais?!... – Continuou o jovem, ainda sem entender nada.
– Bom, penso que um grande número de casais apaixonados nesta zona já visitou esse sítio. Muitas declarações de amor eterno já foram feitas ali, sob as estrelas. – Acrescentou Kakei com um sorriso maldoso.
– Eeeeeeii!!! – Protestou Kazahaya embaraçado e confuso. O que estaria Kakei a pensar, afinal?
Rikuo olhou-o de lado com um sorriso trocista e disse:
– Não te entusiasmes!
– E porque é que eu tenho de ir a um sítio como esse, com este bronco?! – Vociferou Kazahaya, já de pé apontando para Rikuo, que continuava sentado de braços cruzados e a sorrir. Que raiva!
– O nosso cliente não pôde cumprir uma promessa que fez a alguém, há mais de vinte anos. Mas esta noite vocês terão essa oportunidade. Exactamente à meia-noite, algo curioso vai acontecer nesse local e é preciso que estejas lá. Com o Rikuo para te ajudar, caso seja necessário. – Disse Kakei com voz suave, acariciando imperturbavelmente o cabelo negro de Saiga, que parecia continuar a dormir.
– Como sempre é bom recordar, em condição alguma pronunciem o nome desta loja. As despesas adicionais serão cobertas pelo cliente e se bem sucedidos receberão 30000 Yen cada um. Outra coisa: aquele é o vosso guarda-roupa para esta noite. – Disse Kakei apontando dois “yukata” (tipo informal de kimono, em algodão ou seda, bordado ou estampado. Tradicionalmente usado, mesmo na actualidade, em festivais de Verão e outros eventos estivais. “Yukata” significa literalmente “roupa de banho”.) pendurados em cabides atrás da porta.
Kazahaya pegou no mais pequeno, de cor alaranjada com peixes estilizados em encarnado, muito bonito. O maior, que se destinava a Rikuo, era azul-escuro com estampados de ondas no mar.
– Não pensei que fizessem “yukatas” com este tamanho... – Admirou-se Kazahaya, olhando o grande traje azul-escuro.
– Na verdade, esses foram feitos expressamente para vocês. – Sorriu Kakei.
– Uau! Kakei, és fantástico! Além de tudo, sabes costurar?
– Na verdade não sei pregar um botão (ehehe). Foi o Saiga.
– Eeeeehh?!!! O Saiga?! – Kazahaya olhava para o moreno deitado com a cabeça no colo de Kakei sem conseguir acreditar.
– Ei, miúdo! Não me subestimes! – Falou a voz ensonada de Saiga.
– Estavas a ouvir?
– Nunca durmo quando alguém fala a meu respeito, pequeno. Sobretudo quando falam de mim com desdém. Por detrás desta aparência de galã de cinema, eu guardo inúmeras qualidades. Ahahahahah!!!
– Acho que podemos riscar “modéstia” da lista. – Respondeu Kazahaya franzindo o sobrolho.
– Meninos, vão jantar e preparar-se. E boa sorte! – Desejou-lhes Kakei com o seu sorriso mais caloroso.
Kazahaya e Rikuo agradeceram e retiraram-se do gabinete. Kazahaya apertou o seu “yukata” nos braços e abriu um grande sorriso.
– Aaaahh... Um festival de Verão! Adoro festivais!
– Feh! Só um totó como tu deve estar tão entusiasmado com um festival. – Disse Rikuo, mesmo atrás dele.
– Sou um totó porquê, estúpido?
– Ei, que barulheira! É impossível dormir aqui... – Queixou-se Saiga no gabinete.
– Hehehe... Já sabes como são estes casais jovens. – Replicou Kakei.
– Não há aqui nenhum casal!!! – Ouviram Kazahaya gritar do corredor.
– Porque é que não lhes contaste todos os detalhes? Que espécie de monstro és tu? – Murmurou Saiga ao ouvido de Kakei sentindo o toque sedoso das madeixas de cabelo dourado do amante.
– Ora, porque assim é mais interessante. Além disso eles precisam de um empurrão, parece-me.
– És um sádico sem coração.
– E é isso que tu gostas em mim, não é? – Respondeu Kakei com a boca muito próxima da boca de Saiga, os olhos azuis rasgados numa expressão vaga e fria, como se planos complicados percorressem o seu espírito. Saiga acenou que “sim” com a cabeça e puxou Kakei para si, para o beijar.

***

O Templo Tsuki estava construído numa colina coberta de vegetação luxuriante de abetos, cameleiras e cerejeiras. Chegava-se ao alto da colina subindo degraus de pedra talhada, com pelo menos oitocentos anos, e atravessava-se o enorme “torii” vermelho. (Pórtico em três peças que se encontra à entrada dos templos xintoístas e que delimita simbolicamente a fronteira entre a dimensão física e o mundo dos espíritos, sendo muitas vezes o único sinal de que se entrou num templo, visto quase todos serem a céu aberto. Ao atravessar o Torii os visitantes do templo batem as palmas três vezes e executam três vénias em sinal de reverência aos espíritos do templo.) Entra-se num grande espaço aberto que compreende um caminho em lajes de pedra de uns cem metros de comprimento, que conduz ao santuário principal. Percorrendo um caminho lateral para fora do Templo existe um grande terreno usado em noites de festival. Fica ladeado por inúmeras tendas e bancas improvisadas, de doces, iguarias, lembranças e jogos, e ouve-se música e risos em cada canto. Kazahaya e Rikuo chegaram ao Templo e depois dirigiram-se ao recinto do festival, que fervilhava de pessoas de todas as idades em trajes tradicionais ou roupa contemporânea, todas com vontade de se divertir.
– Aaahh... Adoro festivais! Mal posso esperar por ver o fogo de artifício! E comer melancia e algodão doce e fritos de sésamo e mel! – Dizia Kazahaya correndo como um menino entusiasmado.
– Olha, já esqueceste o motivo para aqui estarmos? – Questionou-o Rikuo, franzindo o sobrolho. O “yukata” acentava-lhe muitíssimo bem. Kazahaya olhou-o por um momento e observou a sua maçã-de-adão saliente, os ossos marcados abaixo do pescoço e o desenho do peitoral revelando-se sob o tecido de algodão estampado. Olhou os antebraços fortes que o traje não cobria. Depois olhou noutra direcção porque sentira o sangue subir-lhe ao rosto subitamente e disse:
– Claro que não me esqueci! Mas já agora podíamos tentar divertir-nos um pouco... – Acrescentou cabisbaixo com a expressão amuada de um rapaz pequeno.
– Não resistas! – Disse uma voz grave atrás de si enquanto um braço o agarrou pela cintura.
– Aaarrgghh!!! Saiga! Quase me causas um enfarte! O que fazes aqui?
Saiga usava um “yukata” muito discreto de cor negra com desenhos de canaviais agitados pelo vento. Mas apesar do visual tradicional, mantinha os seus óculos escuros, parecia mais do que nunca um “padrinho” da máfia japonesa.
– Vim ver o festival e aproveitar para te dar um conselho.
– Conselho?...
– Trabalha bem esta noite se não queres que o Kakei te dê o dobro do trabalho na loja. Não te deixes enganar por aquele sorriso. Na verdade ele tem um coração de gelo.
– Espero que não estivesses a falar sobre mim... – Disse uma voz suave mas que de alguma forma se conseguia fazer ouvir perfeitamente no meio da multidão. Era Kakei, que caminhava devagar na direcção deles, usando de forma soberba um “yukata” de cor verde com desenhos estilizados de libélulas.
– Kakei! – Exclamou Kazahaya. – Estás elegantíssimo.
– Muito obrigado! – Respondeu ele a sorrir enquanto agitava um pequeno leque. De facto, Kakei era muito elegante. Kazahaya olhou-o com um misto de admiração e inveja. Gostava de poder parecer-se com ele. Parecia emanar elegância e confiança e muitas cabeças se voltavam para o olhar melhor, mulheres e alguns homens também.
– Tu também ficas muito elegante assim vestido, Kazahaya. E tu, Rikuo, nasceste para usar esse traje.
Kazahaya já havia reparado o quão Rikuo parecia bem naquele traje, mas nem sob tortura o admitiria, é claro.
– Ei, ei!... – Disse Saiga fazendo cara de poucos amigos e colocando possessivamente o braço sobre os ombros de Kakei. – Acho que deverias elogiar-me a mim, sobretudo. Se queres elogiar o Kazahaya, não me importo, é a cara bonita da “Green Store”, mas não me agrada que olhes para o Rikuo.
Rikuo pareceu ficar levemente incomodado com o rumo da conversa mas limitou-se a cruzar os braços e a olhar para longe sempre com a mesma expressão indiferente. Kazahaya também não entendeu bem porque se sentiu mal com o elogio de Kakei a Rikuo.
– Bom... – Concluiu Kakei, sorrindo. – Está na hora de deixarmos os jovens à vontade.
– Sim, tens razão. – Anuiu Saiga pousando o queixo no ombro de Kakei e sorrindo aos dois.
– Agradecia que parassem de dizer coisas com duplo sentido! – Resmungou Kazahaya entre dentes.
E afastaram-se os dois calmamente, Saiga abraçando Kakei, como um casal. Havia quem os olhasse e até quem cochichasse mas Kazahaya achou que havia quem sentisse alguma inveja daquela relação. Até mesmo ele próprio gostaria um dia de ter o que aqueles dois tinham. Olhava-os a afastarem-se, pensativo, quando uma voz grossa lhe sussurrou ao ouvido:
– Fazes umas caras impagáveis...
– Yaaaaarghh!!! – Gritou Kazahaya voltando-se de repente. – Não me sussurres assim ao ouvido!
O grito de Kazahaya chamara a atenção de várias pessoas à volta. Duas raparigas adolescentes em traje tradicional comentavam: «Ah, que giros!», «O mais baixo é adorável!», «Ah, mas o moreno é lindo!», «Estarão a ter uma briga de namorados?», «Olha, estão a ir para um sítio mais privado, para conversar, hihihihi!» (As jovens japonesas parecem apreciar a ideia de dois rapazes envolvidos num romance. Esse facto originou o aparecimento de um género de banda desenhada, dirigido a raparigas jovens, em que relações amorosas entre homens são retratadas. “Lawful Drug” é um desses casos.)
– Idiota! Não devíamos chamar a atenção para nós! – Resmungou Rikuo enquanto arrastava o outro jovem pelo braço para longe da multidão.
– Não estás a melhorar muito a situação! – Respondeu Kazahaya vermelho de embaraço. No seu interior, porém, surgiram traços de uma satisfação ou orgulho por pensarem que ele e Rikuo formavam um casal. Rikuo concerteza ficaria zangado se imaginasse o que ele estava a pensar, mas... Através do toque de Rikuo, chegava-lhe uma sensação forte. Uma imagem surgiu claramente na mente de Kazahaya como uma tela pintada. Era ele próprio, em diversas ocasiões. Mas principalmente na noite em que Rikuo o tirara da rua, meio morto. E principalmente a sua própria imagem a sorrir. Uma imagem da mente de Rikuo, carregada de... ternura e... A imagem desvaneceu-se assim que Rikuo lhe soltou o braço. Era realmente assim que Rikuo o via? Kazahaya estava mais confuso do que nunca. A sua relação com Rikuo nunca fora pacífica e os dois passavam o tempo a trocar insultos e provocações. Pareciam irreconciliáveis. Por vezes pensava que talvez Rikuo estivesse a ficar progressivamente mais aberto, mas daí a...
– Porque me olhas assim? – Quis saber Rikuo.
– P-Por... Por nada!
– És estranho!
– Sou estranho porquê?! – Disse Kazahaya furioso. A visão que lhe surgira fora certamente mal interpretada, Rikuo continuava a ser um bruto.
– Porque assim é a vida! – Respondeu Rikuo com um sorriso de triunfo.
– Mal posso esperar por ter trabalhos que dispensem a tua presença. – Suspirou Kazahaya afastando-se na direcção do bosque que ficava por detrás do descampado onde o festival decorria.
Rikuo olhou-o, um pouco arrependido por estar constantemente a maçá-lo. Kazahaya caminhava de olhos baixos à sua frente. Um rasto de perfume fresco e agradável libertou-se da sua pele e viajou na noite até às narinas de Rikuo, que o inspirou com vontade. Kazahaya estava particularmente encantador esta noite, no seu “yukata” laranja. O longo e elegante pescoço estava exposto, assim como os braços magros, de pele luminosa e macia. O cabelo cor de areia tombava-lhe em madeixas sobre o lado direito do rosto, que se agitavam levemente ao sabor da brisa. Os olhos de Kazahaya eram brilhantes e honestos como os de uma criança, mas a sua boca era uma tentação de lábios cheios e suaves. Rikuo só podia imaginar. A sua imaginação viajara cada dia e cada noite desde que tinham começado a dividir aquele pequeno apartamento. Dormiam no mesmo quarto, era difícil não reparar nas formas suaves e esbeltas de Kazahaya quando trocava de roupa ou enquanto dormia. Muitas noites, Rikuo saíra de casa para caminhar, só para não ter de olhar mais o jovem dormindo sem lençóis, usando apenas boxers e uma t-shirt que apenas lhe sugeriam o seu conteúdo e faziam a sua imaginação trabalhar mais ainda. Para Rikuo não era uma questão simples isto de se estar a sentir atraído por um outro rapaz, mas conviver com Kazahaya, partilhar os dias e as noites com ele, tinha sido a melhor coisa que lhe acontecera em muito tempo. Ele era feliz e sentia-se mais vivo do que nunca desde que Kazahaya entrara na sua vida, mas... Por alguma razão parecia-lhe necessário afastá-lo, irritá-lo de forma a não ter de lidar com um Kazahaya satisfeito, e com aquele sorriso que o deixava sem forças.
Começaram a caminhar por um carreiro suficientemente largo para que alguma luz lhes chegasse da Lua e das estrelas. Em alguns minutos o ruído do festival tornou-se um rumor longínquo e os sons da noite começaram a ficar mais audíveis. As cigarras, o som da brisa nas folhas das árvores e por fim o murmúrio do rio começaram a chegar-lhes enquanto caminhavam em silêncio sob a luz das estrelas.

***

Rikuo iluminou o ecrã do seu relógio digital. Não faltava muito tempo para a meia-noite.
– Faltam trinta minutos. Pergunto-me o que estaremos a procurar, afinal... – Suspirou ele caminhando mesmo atrás de Kazahaya.
– Ele disse que “à meia-noite algo curioso vai acontecer”. Acho que só temos de esperar. Só espero que estejamos no local correcto. – Respondeu Kazahaya afastando os ramos e arbustos conforme lhe era possível para continuar a avançar.
– O Trilho dos Pirilampos fica junto ao rio. Deve estar mesmo atrás daquelas árvores ali.
Kazahaya perscrutou a obscuridade à sua frente e pareceu-lhe ver o brilho de água corrente alguns metros à frente deles. Apressou o passo e contornou a “barreira” formada pelos ramos de cameleiras carregadas de flores encarnadas que pareciam púrpura à noite.
– Olha, é aqui! – Disse ele voltando-se para trás, mas quase caiu ao chão com o choque. Rikuo não o seguia. Com a respiração a acelerar-se e a cabeça a girar, ele olhou em todas as direcções sem conseguir vislumbrá-lo.
– Rikuo, vá lá! Rikuo! Ok, ok é muito engraçado mas já podes aparecer. Rikuo?! – Gritou, já desesperado.
– Chiu! – Respondeu uma voz atrás de si.
– Rikuo! Onde estavas?
– Olha... – Disse ele apontando o rio.
Kazahaya voltou-se sem entender nada e ficou de imediato paralisado e surpreso com o que via. O céu por cima deles estava iluminado pela Lua Cheia que se reflectia na superfície do rio e o ar em volta deles estava carregado de pequenas luzes amareladas que piscavam numa coreografia estranha e misteriosa. Havia ali umas centenas dos pequenos insectos que davam o nome ao local a dançar no ar emitindo a sua luz suave, como se celebrassem o seu próprio festival secreto. A luz dos pirilampos reflectia-se na superfície da água e parecia ser um rio de estrelas que corria vagarosamente.
– Uau! É lindo!... – Disse Kazahaya em voz baixa, ainda sem conseguir acreditar.
Rikuo acenou afirmativamente com a cabeça e olhou a expressão maravilhada de Kazahaya. Que sorriso! Como lhe apetecia abraçá-lo e beijá-lo naquele minuto!
– Só faltam dez minutos para a meia-noite. – Disse Rikuo, por fim, olhando o relógio.
Kazahaya ia responder-lhe, mas deteve-se para escutar qualquer coisa.
– Vem aí alguém. – Sussurrou.
Apressaram-se a esconder-se e começaram a escutar mais claramente a voz de um rapaz e de uma rapariga jovens que pareciam procurar aquele mesmo lugar. A rapariga aproximou-se da água e soltou um suspiro de exultação perante a beleza do que via. O rapaz aproximou-se e abraçou-a por trás. Bonito! Tão cedo não iam sair dali. «Que azar!», pensou Kazahaya. Subitamente, as árvores sobre eles começaram a agitar-se violentamente, ainda que não existisse mais do que uma brisa, e a produzir um rangido, horrível.
– Está aqui alguém! Vamos embora! – Pediu a rapariga, preocupada, olhando em volta.
– Deixa, deve ser o vento... – Respondeu o rapaz abraçando-a sem parecer demasiado preocupado mas um barulho vindo da água silenciou-o. Uma forma negra indistinta pairava a poucos centímetros da superfície da água. Os jovens ficaram atónitos, a olharem aquilo, sem se conseguirem mover. A estranha forma sombria oscilou na superfície da água antes de se desfazer em pedaços com um estrondo. Os jovens gritaram de medo e correram desesperadamente para longe dali, o rapaz puxando a mão da rapariga que continuava a gritar preces de protecção como se tivessem visto um fantasma.
– Exibicionista!... Exageraste um pouco. – Sussurrou Kazahaya a sorrir para Rikuo.
– Não foi fácil tirar aquele tronco morto da água e destruí-lo assim. Fazer os ramos de todas estas árvores moverem-se ao mesmo tempo deixou-me exausto e faminto. – Respondeu Rikuo limpando o suor da testa.
– Faço uma montanha de batatas fritas assim que chegarmos a casa. – Disse Kazahaya com um sorriso tão meigo que Rikuo gaguejou, e não encontrou outra forma de reagir senão dizer obrigado e sorrir-lhe também.
Era raro ver Rikuo sorrir, a não ser quando estava a ser um estúpido, e Kazahaya sentiu o seu próprio rosto ferver quando se olharam nos olhos por um instante. Rikuo era de facto muito atraente e Kazahaya tinha muitas vezes alguma dificuldade em olhá-lo e lidar com ele sem ser seduzido por aquele rosto, aqueles olhos. Instalou-se um silêncio incómodo entre eles que Rikuo disfarçou aclarando a garganta.
– O que quer que seja, deve estar a acontecer a qualquer minuto, agora! – Disse Kazahaya, olhando para a superfície escura do rio cintilando sob a Lua e as luzes dos pirilampos. Começou a sentir-se um pouco estranho, como se um torpor ou um cansaço enorme se tivesse subitamente apoderado do seu corpo. Sentiu-se desmaiar mas alguém o segurou nos braços. «Rikuo?!», pensou. Mas não parecia ser ele. Antes um outro homem, com aproximadamente a mesma idade, também moreno e alto, com um “yukata” de cor escura vestido. Kazahaya sentiu que uma presença estranha tinha de alguma forma “deslizado” para dentro de si e assumido o controlo. Era como se fosse o espectador e não o interveniente.
– Vieste! Tal como prometeste que virias... – Disse Kazahaya com lágrimas nos olhos, caindo nos braços de Rikuo.
Rikuo olhou para os olhos de Kazahaya. Não parecia estar em si. De alguma forma tinha captado uma memória do local onde estavam. Alguém que esperava ali, há mais de vinte anos. Sabia que para cumprir a missão deveria alinhar e corresponder à expectativa da memória que tinha possuído Kazahaya.
– Esperei, aqui por ti. Tanto tempo... Achei que não viesses. Achei que tinhas esquecido a tua promessa... – Continuou a memória, dentro de Kazahaya.
– Eu... vim... Como prometi. – Respondeu Rikuo abraçando-o. O corpo de Kazahaya era leve e quente.
– Eu sei que amas outra pessoa, eu entendo... – Dizia a presença desconhecida em Kazahaya. – Mas se puderes... Se me beijares uma última vez... É suficiente para mim...
Eu não peço mais nada...
Rikuo não esperava aquilo. Kazahaya olhava-o com uns olhos cheios de amor e tristeza e deixava o peso do seu corpo pender sobre ele. Não era Kazahaya, Rikuo sabia-o. Mas era alguém que sofria por amor e mendigava uma migalha. Rikuo olhou os lábios entreabertos de Kazahaya e engoliu em seco. A vontade era muita, ainda que não fosse o mesmo Kazahaya de sempre naquele momento. Apenas um beijo, que mal poderia ter?
Rikuo abraçou o corpo magro e quente que se lhe oferecia e beijou-o na boca. Um gosto adocicado e delicioso. Era o gosto de Kazahaya e era melhor do que imaginara. Kazahaya libertou um longo suspiro de prazer e pareceu amolecer nos seus braços. Os seus olhos estavam marejados de lágrimas, mas sorria. Rikuo pensou que deveria ter beijado Kazahaya há mais tempo.
– Obrigado. Eu... eu não preciso de mais... Espero que sejas muito feliz, com quem escolheste. Obrigado por teres vindo. – Disse ele antes de fechar os olhos e se deixar cair no abraço de Rikuo.
– Kazahaya! Kazahaya!... – Chamou Rikuo baixinho ao ouvido do outro.
– R... Rikuo?! – Respondeu Kazahaya como se acabasse de despertar. – Rikuo!... Desculpa! Eu, eu...!
– Chiu! Não tens porque pedir desculpa, portaste-te muito bem. – Respondeu-lhe Rikuo sorrindo.
– Aaaanh?! Que queres dizer com isso? Portei-me bem, como? O que aconteceu? – Perguntou Kazahaya vermelho, vendo que estava quase deitado sobre o corpo de Rikuo. Pior. Sentia a erecção de Rikuo. Pior ainda. Ele próprio estava excitado. Tarde de mais para sequer tentar disfarçar.
– Kaza... Eu é que peço desculpa.
– Por seres malcriado e não perderes uma oportunidade de me gozar? – Perguntou Kazahaya sentindo-se tremer ainda nos braços de Rikuo, o coração a bater tão forte que parecia ir explodir.
– Referes-te às minhas demonstrações infantis de afecto? Não. Peço desculpa por não ter tido coragem antes. De te abraçar assim. De te dizer que te quero.
– Rikuo!... – Kazahaya não disse mais nada porque Rikuo o beijara. Suspirou apenas e correspondeu ao beijo quente, longo e delicioso, dele. Os seus corpos apertaram-se um de encontro ao outro. Os braços de Kazahaya percorreram as costas fortes de Rikuo. Rikuo ergueu-o nos braços fazendo os seus pés ficarem suspensos no ar e deixou-o deslizar, fazendo-o sentir o seu peito e a rigidez do seu sexo, enquanto os seus pés voltavam a tocar o chão. Kazahaya soltou um gemido abafado de excitação, incapaz de o conter e tão embaraçado que mal conseguia olhar Rikuo nos olhos.
Rikuo encostou as costas de Kazahaya contra o tronco rugoso de uma árvore e despiu o “yukata” com movimentos rápidos. Não trazia nada vestido por baixo a não ser uns slips brancos que permitiam a Kazahaya adivinhar com relativa facilidade a forma e o tamanho do sexo dele. Rikuo voltou à carga. Entre beijos, foi descobrindo devagar os ombros brancos e finos de Kazahaya, e o seu peito liso e macio. A sua mão desenhou, ao de leve, uma carícia, do seu pescoço ao peito. Mamilos pequenos e erectos de cor rosada contrastavam com a brancura da pele, acentuada pela luz pálida da Lua Cheia. Rikuo admirou o corpo de Kazahaya e olhou-o, tentando decifrar o que ele sentia. Kazahaya parecia receptivo, embora nervoso. Não era difícil adivinhar a sua pouca experiência, mas Rikuo não era mais experiente do que ele, apesar do que a sua atitude mais agressiva pudesse levar a crer. A expressão ansiosa de Kazahaya, porém, levava-o a querer ser mais carinhoso e paciente. Por nada quereria dar a Kazahaya algo que lhe fosse desagradável ou causasse arrependimentos. Esperara muito por este momento.
– Kaza, eu... – Começou Rikuo a falar, mas desta vez era Kazahaya que não o permitia, colocando a mão sobre os lábios dele. Olhava-o com olhos cheios de emoção e, apesar de parecer tremer, havia naquele olhar uma resolução. Kazahaya desejava que aquilo acontecesse também. Rikuo abraçou-o carinhosamente, oferecendo o conforto dos grandes braços envolvendo o corpo magro de Kazahaya. Beijou suavemente os seus lábios e depois, tomado de uma vontade irresistível, tomou um dos mamilos rosados na sua boca. Kazahaya soltou um gemido que tentou em vão conter. As mãos de Rikuo desceram pelo corpo dele, libertando-o devagar do fino tecido do “yukata”. Os seus dedos seguraram suavemente o elástico da sua roupa interior e fizeram-na descer ao mesmo tempo que a sua boca pousava beijos desejosos no peito e ventre do jovem que mais não fazia senão estremecer e soltar suspiros entrecortados. Rikuo olhou as coxas nuas do rapaz e o seu sexo que estava totalmente erecto. Era fino e rosado e segregava sem parar uma substância semitransparente que Rikuo sabia ser um claro sinal de um elevado grau de excitação. Sem conseguir pensar em mais nada, Rikuo prendeu o sexo de Kazahaya entre os lábios e lambeu o fluido salgado, fazendo Kazahaya gemer e murmurar:
– R-Rikuo...
Os dedos de Kazahaya afundaram-se no cabelo negro de Rikuo, que continuou, cada vez mais confiantemente, a chupar toda a extensão do sexo do jovem, experimentando a cada segundo novas formas de proporcionar prazer. Kazahaya estava paralisado, num estado de prazer sublime que o entontecia. De costas arqueadas, a cabeça apoiada no tronco da árvore, os olhos fixos no céu estrelado, mal conseguia assimilar todas aquelas sensações novas. Tudo lhe parecia irreal, as nuvens de pirilampos que flutuavam sobre o rio e o facto de estar ali com Rikuo, Rikuo a proporcionar-lhe aquele prazer. Por fim, Rikuo interrompeu aquela carícia e levantou-se encostando o seu corpo ao dele. Kazahaya queria senti-lo mais ainda. Um pouco inseguro, puxou a roupa interior de Rikuo para baixo, fazendo o seu membro erecto saltar cá para fora. Era bastante volumoso, com veias salientes, projectando-se para a frente da sombra escura de pequenos e espessos pêlos encaracolados. Kazahaya puxou-o para si e suspirou ao sentir o desejado contacto com o membro de Rikuo. Estava muito quente e parecia latejar, a sensação era deliciosa. Rikuo também mergulhava mais e mais numa espécie de transe em que o cheiro de Kazahaya, os seus lábios, o seu cabelo macio e o seu corpo quente consumiam toda a sua consciência e tudo à sua volta desaparecia na noite. Prendeu o seu sexo que doía de tão duro entre as coxas dele e começou a movimentar-se devagar. Kazahaya sentia o calor, o latejar daquele membro naquela região sensível e apertava-o entre as coxas enquanto o seu sexo era esmagado contra o abdómen duro de Rikuo. Voltaram a beijar-se desejosos, uma e outra vez, as línguas a acariciarem-se em ternura e fúria ao mesmo tempo. As mãos de Rikuo tocavam o peito sensível de Kazahaya apertando e torcendo suavemente os seus pequenos mamilos. Kazahaya suspirava profundamente olhando-o nos olhos, com uma expressão febril de desejo, enquanto se movia mais rapidamente, apertando mais e mais o seu sexo entre as coxas que se enchiam de suor. Rikuo sentia-se à beira do êxtase, a ponta do seu sexo aflorava as nádegas de Kazahaya e um orifício desejoso, que emitia calor. Rikuo desejava poder penetrá-lo, sentir aquele calor envolver o seu sexo, afundar o seu membro duro e molhado de suor e pré-gozo na carne macia de Kazahaya. Com golpes de rins furiosos, continuou a friccionar o sexo entre as coxas trémulas e suadas de Kazahaya. Por esta noite era suficiente, era mais do que poderia ter esperado. Inclinando-se, abocanhou o seu peito e acariciou-o com a língua. Kazahaya tremia como uma folha, o rosto vermelho e o olhar ébrio de desejo, soltando gemidos e murmurando delícias ao seu ouvido.
– Ri-Rikuo... Eu não aguento mais...
Rikuo beijou-o apaixonadamente e sentiu o membro de Kazahaya, friccionado pelo seu abdómen, latejar violentamente e soltar em grandes golfadas um fluido que parecia arder. Rikuo não aguentou mais e colocou a ponta dos dedos entre as nádegas de Kazahaya, tocando ao de leve um anel de carne macio que se contraía ao sabor do orgasmo de Kazahaya. A excitação que sentiu foi suficiente para o empurrar também para o clímax. Soltando o que parecia um urro de dor, beijou Kazahaya na boca enquanto, entre espasmos, derramou o seu sémen em jorros entre as coxas apertadas do seu amante.
Ficaram quietos por um tempo indeterminável, Rikuo apertando Kazahaya nos braços, sentindo o calor do seu corpo macio e delgado, o perfume que se soltava da sua pele. Lentamente, os sons da noite voltaram a ser perceptíveis nas consciências de ambos. O correr vagaroso do rio, o canto dos grilos. Rikuo tentou olhar para Kazahaya, mas ele mantinha os olhos baixos.
– Por favor, não sintas vergonha. – Disse ele segurando ternamente o queixo de Kazahaya.
– Apenas te peço... que sejas completamente louco por mim. – Respondeu Kazahaya com voz hesitante, olhando-o com medo e esperança.
– Pede-me outra coisa. Eu sou louco por ti desde a noite em que tu entraste na minha vida. E não consigo imaginar um dia em que não te tenha perto de mim.
Kazahaya sorriu-lhe com os grandes olhos brilhantes com a promessa de lágrimas, e beijou-o, com o beijo mais longo sentido e verdadeiro que algum dia Rikuo recebera.

***

– Kazahaya! Por favor, vem ao meu gabinete assim que possas. – Era a voz de Kakei que o chamava.
– Hum... Rikuo! Apetece-te tomar uma cerveja? Precisava de ter uma conversa contigo. – Chamou Saiga quase ao mesmo tempo.
Rikuo e Kazahaya entreolharam-se confusos antes de se encaminharem cada um numa direcção, seria uma nova missão? Então porquê falar com eles individualmente?
Kazahaya foi fechar a porta da loja e dirigiu-se ao gabinete. Kakei aguardava-o com um sorriso nos lábios, como era hábito, e na mesa à sua frente havia um bule de chá acabado de preparar e sanduíches variados. Kakei fez-lhe sinal para que se sentasse.
– Então, Kakei? Alguma missão que eu possa levar a cabo sozinho?
– Não... Na verdade, eu e o Saiga resolvemos ter uma conversa séria com cada um de vocês. – Explicou Kakei, olhando-o friamente por detrás dos óculos finos. Kazahaya engoliu em seco. O que poderia ser? – Acho que está na altura de falarmos francamente sobre sexo e meios de prevenção! – Disse Kakei com o sorriso mais natural que se possa imaginar.
– Arrrrgh!!! Kakei!!! – Gritou Kazahaya com o rosto vermelho de embaraço.
– Pensei que tivesses algumas dúvidas ou perguntas que quisesses fazer...
– Acho que me posso desembaraçar sozinho, obrigado!
– Bom, falando mais seriamente... – Continuou Kakei. – Gostava que tu e o Rikuo soubessem que eu e o Saiga estamos disponíveis para o que precisarem. E que... se o Rikuo alguma vez te fizer chorar, conta comigo para lhe fazer a vida impossível. – Completou Kakei com um sorriso amistoso.
– Obrigado. – Disse Kazahaya, sorrindo também. Era bom saber que tinha uma espécie meio louca de família entre Kakei e Saiga. Era o mais parecido que tinha com uma desde há muito tempo.
– Vamos ao lanche! – Anunciou Kakei debruçando-se sobre a mesa.
– Kakei... – Disse Kazahaya um pouco hesitante.
– Sim?
– Que espécie de conversa está o Saiga a ter com o Rikuo?
– Está concerteza a explicar-lhe alguns factos da vida. Tenho a certeza de que vais apreciar tudo o que o Rikuo aprender com ele.
– Acho que estou a ficar preocupado. – Respondeu Kazahaya franzindo o sobrolho. E depois riu, sentindo pela primeira vez em muito tempo que um futuro promissor e risonho se aproximava.

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